quarta-feira, 30 de março de 2011

Hoje é o dia

Queria...
Não queria nada.

Sentir...
O insensível.

Desejar...
O indesejável.

Ser,
Desaparecer.

Sumir,
Existir.

Ver,
O que há por dentro.

Sentir,
O que é real.

Fantasiar,
Um passado diferente.

Ser ausente do futuro,
Pois é só o  hoje o que é real.

Um amigo

Desejo ser teu amigo,
O melhor que eu possa,
Que imaginas em ter.

Quero tanto
Ser ombro
Ser mão
Ser colo
Ser companhia.

Tão amigo.
Não apenas para um abraço
Ter algo mais.
Que seja amor amigo,
Que estejas à vontade comigo.

Tão amigo,
Que não serei eu só.
Serei o melhor de mim,
Serei eu pleno para ti, feliz.

Se houver muita amizade,
Seja sentida e querida.
E que seja tanta
Que se torne desejo
De abraço
De carinho
De beijo
De amizade colorida
E muito amor
Pra não lembrar que há sexo.

Abraço amigo
Quero amor amigo
Torná-lo antigo,
No futuro.

Eu, ser antiquado
Quadrado
Ridículo
Desejado
Amado
Dedicado
Delicado
Mandar-te flores,
Delas um bocado.

Ser só mais um não quero.
Não há palavra para o que espero.
Mas amigo é bom começo.
Se aceitares, agradeço.

Do bom senso, das etiquetas e rótulos

Aos diabos com as etiquetas!
De mesa,
De roupa,
De comportamento.

Aos diabos com todas elas!
Bom senso de não comer com as mãos
E de não pagar pra fazer propaganda:
De marcas.
Publicidade involuntária.
Ou idiotice, se for voluntária.

Pra quê etiquetas,
Rótulos?

Não sou produto!
Sou Fruto!
Que apodrece em um ambiente inadequado,
Inapropriado.

Sou Fruto cuidado por mim mesmo.
Que se perpetua
Pelas sementes.
Que se descuidado, por mim mesmo,
Apodrece,
Perece,
Esquece-se,
Deixa de ser
E apenas se coloca na prateleira a venda.

Heteronímia

A ideia de heterônimos me seduz  até a alma.
Mas não é minha,
Nem a alma e nem a ideia,
E não tenho inteligência para isso.

Quero ser eu mesmo
E imitar quem leio
Talvez nem queira ser nem ler
E muito não imitar.
Gostar apenas,
Intransitivamente.

Não vou repartir-me
Nem comigo mesmo
Não quero reinventar-me,
Vai que dê errado
E resulte num assombro.

Isto é um assombro,
Ser eu mesmo comigo mesmo
Aguentando-me sozinho.

Um pseudônimo,
Talvez necessário.
Um disfarce de mim
Só com um nome
Para esconder meu nome,
Mas não quem sou.

Só de pensar nisso
Já me esqueci do meu.
Do pseudônimo ou do nome próprio?
Já nem sei mais,
Confundi-me completamente.

Às vezes quero ser o outro
E não outro de dentro de mim mesmo
Com outro nome
Ou com um nome
Que não é meu
E nem é de ninguém.
Melhor se anônimo!

Socorro!

Não sei quem sou
Nem meu nome
Nem se sou heterônimo
Nem se homônimo de alguém
Ou se o pseudônimo será meu próprio nome
E meu heterônimo eu mesmo do avesso
Contradizendo-me o tempo todo
Sem mudar nome, sem mudar pessoa.

Meia dúzia de prazeres

Intervalos esparsos
Entre momentos de trabalho,
De lida tranqüila.

Sobra-me um tempo furtivo
Para uma lida,
Meia dúzia de poetas e poetisas.
Meu desejo é cem, não tenho tempo,
Há trabalho a fazer.

Gosto de café amargo
Mas de versos doces
Como os de Cora Coralina
Gostaria que fossem meus
Mas são de fato
Talvez mais eu deles
Do que eu de mim mesmo.

Tive meia dúzia de prazeres.
Se tivesse lido cem deles
Cem mil vezes prazer teria
E não saberia o que fazer
Com tanta euforia,
Seria impossível trabalhar.

Cafezinho

Desperto na madrugada
Talvez tendo como motivo nada

Aperto-me na alvorada
Por meus pensamentos
Desordenados.
Um sonho
Preciso estar acordado

Alerto-me
Em relação ao sono
Que se foi.

Café em excesso,
Não expresso,
Como gosto

Imponho-me uma angústia
Deliciosa,
Saborosa,
Como o café que faço
E agora bebo

Sinto-me feliz
Em não sonhar dormindo
Sinto-me triste
Em sonhar acordado

Busco motivo,
Soluções.

Deparo-me com a reposta
Um convite
Um café
Uma companhia
Qualquer.

Existo logo penso

Sou partidário de Caeiro.
“Filósofos são homens doidos”
Perguntam tudo e respondem tudo
E não resolvem nada.
Adoro ser doido
Elucubrar a respeito de coisas
E deixar meu irmão morrer de fome.

Tem filósofo que pensa que pensa,
Tem até o que pensa bem e bastante.
Tem até alguns que gosto
E tem até alguns que me ajudam
E tem também alguns que entendo
E um monte que não entendo nada
E nem quero,
Ficaria completamente doido.

É só minha insanidade

Às vezes penso eu
Que deveria escrever
“Um Livro Sobre As Coisas”.

É.
Tenho vários pensamentos
Sobre tudo que faz parte
Da minha realidade
Mesmo que abstrata.

Devaneios,
Elucubrações diversas,
Palpites,
Citações.

Tudo derivado
Dos tais pensamentos fractais.

Tenho idéias
Que não são precisas.
E precisam ser?
São um emaranhado
De pensamentos insanos
Com um fundo de lógica.

Ora!
Se têm lógica não são insanos.

São simples,
Não necessitam de comprovação científica
São apenas pareceres meus sobre as coisas.

Quais?
Ainda não faço idéia.
Nem dos pareceres,
Nem das coisas
E muito menos das idéias.

Estou de saco cheio

Escrever lixo
Disfarçado de poesia

Vou tentar um conto
Disfarçado de entulho

Cheio de barulho
E gente morta

Um quebra cabeça,
Sim um conto é.

A poesia lixo
É quebra alma
Tormento
Arrebento

É quase morte
É quase nascimento

Ô inferno!
Ô paraíso!

Como eu gosto disso
Mesmo que farto
Em duplo sentido.

Contexto

Incluir-me no contexto histórico
Não é parte de minhas pretensões.
Incluir o contexto histórico em mim
Não é parte das minhas intenções.

Gosto de ser alheio ao sofrimento alheio,
Os sofrimentos que não são meus.
Para quê haveria eu de querê-los?
Se nem dos meus quero eu saber.
E já me são o suficiente
Para não querê-los e muito menos querer vivê-los
Basta-me a dor, a que já é minha, seja lá qual for.
Sofrer é pra quem não aceita a sua própria.

Não quero viver, ver, saber, sentir ou ouvir
Nada que não me interesse.
Interesso-me por muita coisa
Menos por notícias patéticas, que mais parecem
Um espetáculo circense das bizarrices do comportamento humano.

Quero sentir apenas o que me é possível agüentar.
Quero ler coisas que me façam bem até que fique cego de tanto lê-las.
Quero ouvir músicas que me alegrem,
Mas até as que me entristecem fazem-me bem também.
Quero escrever um texto sem nexo com um monte de anexos
Explicando o significado do próprio texto que não diz nada.

Gosto de complicação para ter explicação e justificativa.
E depois ajuntar tudo isso e simplificar em uma única coisa:
Pôr-me fora do contexto.
Que implica em conhecê-lo muito bem
Para que não me engane ao tentar retirar-me dele
E nele continue, como agora, que não consigo nem sair e nem ficar.

Ou isto ou aquilo

Ou isto ou aquilo
Ou coisa nenhuma
Eu quero qualquer coisa
Quero aquela
E daquela um pouco
Ou tudo isto
E tudo aquilo
Tudo disto e do mais só um pouco.

Não afronto Cecília,
Quem sou eu para querer isto?
Lembro-me bem
Quando vi a coleguinha
Com aquele livro: Ou isto ou aquilo.
Oito anos de idade.
--Mamãe eu quero ISTO.

E então dentro de mim nasceu
A vontade da poesia.

Até hoje não sei dela nada
Sei ler é só Caeiro
Agora eu quero Cecília, Adélia e Flora
E quero também Cora
E Cesário bem maduro.

Ou isto ou aquilo?

Hoje quase quarenta!
E continuo querendo a mesma coisa
Se é isto ou aquilo não sei não.
Mas isto eu quero muito
E aquilo quero demais.

Anne Elisabeth

Hoje
A tarde foi fúnebre
Chorei a morte de uma filha
Para vida inteira eu a queria.

Senti em cada parte minha
O vazio deixado quando alguém parte.
A boca amarga, o estômago enjoado
Não havia saída, nenhum lado.

Meu pranto durou eternamente
Nos minutos em que estive consciente.

A filha amada e preferida
Ela, tão doce, desejada e querida.

Era tão linda e doce,
Talvez perfeita.
A eleita.

A dor não é só da alma.
É da carne, da visão,
Do tato, do olfato.

Meu corpo geme
Adoece e treme.

Ainda choro,
E sei que a queria sempre
Rezo e imploro,
Mesmo sem crer peço piedade
Da minha alma, e por caridade
Me leve no dia que deve ser.
E que me eleve ao lado
De tão bela criatura.

Doce,
Amada,
Querida.

Sei que não está perdida
Está plena, talvez até com asas
Para sobrevoar todas as casas
Como sempre quis durante a vida.

sábado, 26 de março de 2011

Eu quero aprender Português


Para quê sonhar?
Sonhar ser escritor se escrevo todo dia.
Sonhar ser o que sou o dia todo,
Mesmo sem escrever estou escrevendo
Ou no mínimo pensando em que.
E que se dane se ninguém ler.
E que se dane se ninguém gostar.
E que se dane se for ruim.
E que se dane também se for bom.
Que se dane!
O sonho é meu e a vida...
A vida não.
Essa é Dele.

Para que sonhar?
Sonhar ser poeta. 
Até para orar fico fazendo rimas.
Dessas sei que Ele gosta,
A mim só importa o que Ele gosta
Mas ainda não sei fazer tudo
Para Ele não conto mentira,
Nem que quisesse, Ele saberia.

Para que sonhar?
Sonhar fazer o que faço o tempo todo?

Escrevo sem vontade (Mentira, eu sempre tenho)
Escrevo sem pensar (Mentira, eu penso demais)
Escrevo sem querer (Mentira, eu sempre quero)
Escrevo sem saber (Mentira, eu sei um pouco)
Escrevo sem rimar (Mentira, eu rimo às vezes)
Escrevo sem ler (Mentira, eu leio).
Escrevo até contando uma história que não é história de nada.

Para que sonhar?
Ser o que faço já é meu sonho.

Meu sonho mesmo é ser pianista.
Mentira!
Meu sonho mesmo é aprender Português
Para parar com essa brincadeira de escrever
Sem saber em que Língua escrevo.

Está na moda

Uma ditadura
Criada pela ilusão
Do modelo
Do que é belo

Todas,
Elas
Belas
E iguais

Magrelas
Retilíneas
Aparentes
Doentes

Iludidas
Ludibriadas
Escravizadas

Escovinha
Progressiva
Dietinha

Ilusão
Da visão
Alucinação
Aceita como realidade

Vozes do além
Ditando regras
Para este padrão
Esquizofrênico de beleza.