quinta-feira, 14 de abril de 2011

Escrever é um prazer

É dor
Um parto
De sete gêmeos
Que saem de uma só vez

Alargando a vagina da alma
Ao extremo
Eu não tenho uma, pois sou homem
E lá a alma tem uma?
E então me dói ainda mais
Porque sou só pai
Porque sou só
Porque sou
Porque sou um puto que pariu
Por
Que
Só escrevo
Escrevo só

Penso que é prazer
Porque é só alívio de dor
Do prazer
Da dor
Do sentir
Do existir

Do renascer de dentro de mim mesmo
Parido por uma caneta
E deitado sobre um caderno

É só o meu prazer.

Ser

Incoerência concisa
O ego pesquisa
Sente-se a vontade
O tempo todo em contrariedade

Idéias concretas
Entre si discretas
Discrepância
Alternância

Pensamentos
Ilusórios
Compulsórios
Sentimentos

Ausência
De coerência
Satisfação
Não
Existência

Ser
Contrário a si mesmo
Um prazer
Involuntário e a esmo.

Espontâneo

Espontâneo
Errôneo
Errado espontaneamente
Erro exposto
Exposto desgosto

Erradamente espontâneo
Momentâneo
Instantâneo
Simultâneo

Erro e acerto
Gosto e desgosto
Som e silêncio

Existir e vazio

Dicionário inútil
Só tem palavras,
Queria sons

Uma mala
Cheia de verbetes
Dos quais não se extrai
Sentimento algum

Um catador
De palavras que
Simplesmente
Agradam ouvidos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tom Zé

Que alegria
Abrir o jornal
E te ver numa foto

A beira
Da banheira vazia, sem camisa
Com uma toalha vermelha na cintura
Segurando um guarda chuva aberto também vermelho
Ensaiando um mergulho.

Arrancou-me uma gargalhada

Que alegria logo cedo
Você iluminou meu dia
Você nem sabia
Que isso aconteceria

Só você
Que sofre de juventude
É capaz de ser eternamente brilhante
E de fazer-me brilhar
Mesmo que só por um instante.

Essa juventude de setenta e poucos
Que me encanta e me resolve.

Significando beleza

Eu me decepcionei
Quando fui ao dicionário
Procurar o significado de beleza.

Encontrei,
Senti-me perdido, um otário.
Lá não estava escrito seu nome.

O significado desta palavra
Não está estampado
Em uma folha de papel.

Está na minha língua que se trava
Quando tento falar com você ao meu lado
A Língua perde o significado
Como na história de Babel.

Procuro então um sinônimo,
Uma rima.
Tão óbvia e clara
Quanto o significado
De beleza
De sutileza
De delicadeza
De leveza.

No dicionário que inventei
Tudo isso significa seu nome.

A submissão de Carolina

Carolina trabalha bastante,
Mãe dedicada, boa amante.
Casa impecável, em ordem e limpeza.
Dá duro na faxina pra que os dois filhos possam estudar,
O que não fez.

Mas por ser bem quista e adorável
Sua patroa lhe ensinou
A ler e escrever.

Ama seu marido,
Parece-me que ele também,
Nunca a traiu.
Em pensamentos não sei,
Não posso ter certeza.

Carolina sim!
Nunca o traiu
Nem em pensamento.

Um dia chegou a sua casa,
As crianças estavam fora,
Dormindo na casa da avó.
Desejou profundamente encontrar o marido
E a única coisa a fazer
Repousar a cabeça em suas coxas e umas carícias pelos cabelos
E ali adormecer,
Apenas isso.

Mas seduziu-a, estranho, pois a sedução é uma arte feminina.
Estendeu as carícias até outras partes de seu corpo.
Não era o que queria,
Mas consentiu, ele sempre a tratava como gostava.
Entregou-se àqueles momentos de prazer sem afeto,
Foi o que sentiu.
Teve muito prazer e consumado o ato
Sentiu-se relaxada e adormeceu.

Acordou bem!
Radiante!
Disposta e amada.
Mas não foi o acontecido com o marido.

Tivera um sonho!
Chegava a sua casa e sem pedir nada
O marido a pegava no colo,
Levava-a até o sofá e
Deitava-a sobre as próprias coxas
A lhe acariciar os cabelos.
O sonho foi tão bom que o desejo de adormecer se fora.

Então Carolina se arrumou bem bonita, mais do que já era, e saiu.
Voltou à luta, que era dura,
Mas a ela pouco importava se era ou não.
Carolina era muito feliz.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Elogio às avessas

Você não é a mulher dos meus sonhos
Porque nunca sonhei com você

A pessoa de meus devaneios
Não se parece com você
A cor dos olhos é outra
A tez é diferente

O olhar dela é totalmente ausente
Você não é como ela
Ela é extremamente bela
Exageradamente sedutora

Vocês não se parecem em nada
Nem na beleza que têm
Nem no olhar, o seu é profundo.

Ela é um sonho complicado
E você simplesmente real
E apavorantemente linda

A mulher dos meus sonhos
Agora é um pesadelo

sábado, 9 de abril de 2011

Uma canção de amor

Você disse que não escreveria
Uma canção de amor
Só porque eu queria
Mas me deu uma razão
Escrevê-la pra você.

Como posso sentir ausência?
A única coisa que tenho
Para matar a saudade
De uma pessoa que nunca
Esteve comigo, é a voz
Suave
Doce
Expressiva
Uma canção

Você diz que vai me deixar ouvir-te como é

Agora vou escrever
Uma canção de amor
Para você.

Não vou te agradar
E nem querer te conquistar
Agora eu tenho
Uma razão em te escrever.

Quem precisa
De uma canção de amor
Sou eu
Mesmo que ela seja para você.

A Love Song

You said you’d not write
A love song
Just because I wanted one.
But gave me a reason to
Write it for you.

How can I feel the absence?
The only thing I have
To get back in touch,
person who was never around.
Is the voice
Smooth,
Sweet,
Expressive,
A song.

You say you'll let me hear you as you are

Now I’ll write
A love song
For you.

I’ll not try to please you
Or attract you to me.
Now I have a reason
Write it for you.

’Cause who needs
A love song,
Is me,
Even if that’s for you.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Escrito a sangue

Meu coração não sente,
Vive.
Nele,
Não há sangue algum.

Em minhas veias e artérias
Corre é tinta.

Gosto de pensá-la
Em cor azul
A minha preferida.

Ele é cheio,
Repleto.
Não bate,
Vibra continuamente.

Emociona-se à toa
A todo instante

Desejo usar essa tinta
Escrever o dia todo

Minha vida é um livro
Que a mim não foi dada a posse

Sou grato.
Este músculo,
O mais forte de meu corpo

Que me dá a vida
E o sentido.

Quero sangrar até morrer
Sobre este livro que não é meu.