quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ciência exata

Escrever é preciso
Uma ciência exata
Saber sintática
Saber gramática

Escrever é preciso.

Pingos nos is,
Vírgulas,
Rimas.

Ah! Inferno de precisão.

Dicionários
De rimas
Sinônimos
E antônimos

Escrever é preciso
É precioso
É poderoso.
Quando escrevo sou poderoso,
Liberto-me de fantasmas.

Liberto-me porra nenhuma
Apenas os aprisiono
Atrás das grades destas linhas

E volto sempre pra vê-los
Aprisionados heroicamente por mim,
Minha caneta
E meu caderno
Mas quando me olham
Por de trás das grades,
Escarnecem.
E dizem que quem está preso
Sou eu!
Do outro lado das grades
Aprisionado na precisão da escrita.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De braços e lápis dados continua . . .


"Caro senhor Joaquim; primeiramente peço-lhe perdão pela liberdade tomada nesta carta já que nosso relacionamento sustenta poucos anos de superficialidade cotidiana, fato que tornaria quase injustificável uma confissão como a que eu farei. Mas a questão é exatamente essa: eu não estou aqui com a finalidade de estreitarmos nossos laços, muito menos possuo qualquer ilusão de que o senhor poderá, por meio destas ............................... "    clique acima, para ler interio!

Rotina

Na superficialidade cotidiana
Dos cordiais 'bom dias', 'bom descanso'
Eu muito manso, quieto...
Descobri uma moça.
Que me fez deixar de lado
O olhar obsceno, do desejo pequeno
Aprendi o olhar simples
Que não traz desejo, angústia

Olho-a, rezo-a
''Te tenho uma reza"
Sempre digo a ela!

Ladainha dentro do pulso
Sinto e ressinto, mas não engano,
Não minto, só omito!

Ah o tal amigo do Joaquim...
Não sou eu, e de quem falo é moça
Que me espreme e força
A não querer mais do que devo

A rotina, desse Joaquim, parece banal
A minha um conforto
Absorto na graça austera,
Complicação sincera,
Pensamento célere
Vê-la na surpresa da imprevisibilidade
De sua cotidiana elegância,
Alternância...
Um dia lentes
Noutro óculos

A moça, vejo todo dia
Dia a dia,
E a cada um que passa
O outro pra trás...
Que bem poderiam ser
Seus passos em minha direção
Vindo entregar-me uma carta
Dizendo...

Ah! nem é preciso dizer...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Quitanda (a Eça de Queirós)

...escrito talvez numa tarde de maio em 2011

Talvez deva mesmo
 Abrir uma boa quitanda
 Dedicar meu precioso tempo
 Em algo útil, vender comida, fruta.
 Lindas mangas, brilhantes de cor intensa

Subjugo meus sentimentos a outro
 Que deveras não irá senti-los
 Minhas doces mangas
 Ah estas sim, sentirão de fato o sabor.

Entrego-me despido
 Sem pudores moralistas
 Pensando ser altruísta
 Que alguém se identifique
 E o que vivi lhe sirva de ajuda

Ledo engano
 Vou é vender fruta
 Mesmo.

‘Bom dia senhora’
 ‘Obrigado pela preferência’
 ‘Tchau, até amanhã’

Quanta gentileza!

Apodreçam meus versos
 Todos na gaveta
 Amadureçam os frutos
 Todos na prateleira

Um livro meu?
 Só se for do fluxo de caixa
 Da minha nova empreitada.

Minha prosa e poesia serão encaixotadas
 Junto das berinjelas velhas
 Chicórias murchas
 Tomates podres

E depois jogados
 À terra virgem
 Para servirem de adubo
 A algo que cresça
 E sirva para alguma coisa

Minha quitanda vai chamar-se:
 Livraria.
 E vai ter livro com casca
 E fruta com capa
 E versos de cebola
 E cachos de letras
 E abobrinha do tipo prosa
 E poesia do tipo goiaba

E verde...
 Só Cesário.
 E eu...
 Vou ser empresário.

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Parece que ao fim da vida, Eça de Queirós disse que teria sido mais útil a sociedade se tivesse aberto uma Quitanda.